02
Mar 11

Confesso que é sempre uma sensação estranha e que depois se entranha, aquele que um sente, com um bafo de ar quente e seco africano, depois daquele frio húmido que nos repele em pleno Inverno europeu.

O trajecto para o Atlas é como que um caminho que percorremos até chegar ao palco onde vamos ver uma actuação, praticamente sempre com os cumes no horizonte, que lentamente se vão tornando mais visíveis. Acresce que nos acompanha um nervoso miudinho, típico de quem está prestes a receber uma excelente surpresa. A forma como se vislumbra a paisagem que nos rodeia, naquela estrada alcantilada entre Marraqueche e Imlil, no sopé da grande montanha, mais faz lembrar o advento do homem que procura a melhor forma de atingir o cume que ainda nem sequer é visível.

Os pensamentos sucedem-se. A mochila pesa pouco, talvez tenha sido esquecido alguma coisa… Como estará o acesso ao cume? Aquela dor no tornozelo que senti há dois dias e que neste momento ainda me dá tréguas, oxalá nem eu sinta na subida que me espera. Como vai ser a subida com os meus companheiros. Há muito tempo que não caminhamos todos em grupo…

Enfim, entre estes pensamentos cortados por comentários dos companheiros, volto a fixar o olhar na paisagem que me rodeia. Veículos uns atrás dos outros que nos passam metade pela estrada, outra metade pela berma que começa a ser cada vez mais íngreme e limitada pelo vale do rio cada vez mais escarpado. Por vezes o jipe é abrandado pela proximidade de um pesado que segue lentamente à nossa frente e mais parece ocupar todo a estrada que consegue.

Gente que se encavalita em tudo quanto pode na carrinha, naquela viagem para a aldeia. Gente que passa lentamente na berma da estrada, no meio do nada, apenas acompanhados alguns pela mula que segue também ela em passo constante à frente, outros, acompanhados apenas pela confusão da estrada e o marejar do rio nascido no degelo da montanha que cada vez se levanta mais imponente à nossa frente.

A subida ao refúgio correu de forma exemplar, onde acabámos por chegar de noite, com frontal na cabeça. Ainda assim foram mais de quatro horas de caminhada a pé, desde os 1.700 mts de altitude até ao 3.200 mts, já no meio da neve. Um caminho que deu para recordar ainda aquele casal que seguia também numa mota lá em baixo. Ela sentada atrás, com um enorme cesto no colo. Gente simples, apenas mais um com que nos cruzámos euforicamente com o nosso objectivo obcecado na mente. E ali… no meio do nada, onde os meus companheiros seguem à frente, posso finalmente sentir o prazer da montanha. Do espaço frio e silêncio daquele recôndito lugar “in the middle of nowhere”. O poder que ela nos transmite é proporcional ao desafio com que nos confronta. Sentir todos os músculos do corpo a responderem lentamente ao esforço da subida.

(Continua)

Texto de Nuno Pereira (Parte 1/4)

Quem foi lá: Águia-real, José João, Nuno Pereira e Domingos Dias

Itinerário: Porto-Marraquexe-Imlil-Refúgio de Nelter

Dados da actividade:Dia 1

Fotos de Vamos Ali... / Fotos de Águia-real /Fotos de Nuno Pereira

publicado por Vamos Ali às 12:01

comentários:
Em Agosto Vamos Ali outravez !!!
Parabéns para o Grande cronista
IZ a 18 de Março de 2011 às 14:42

Isso é que é inspiração...
Mt bem :-)
Espero em Agosto tb sentir o prazer dessa aventura...
Elsa a 18 de Março de 2011 às 14:34

Hehe, em Agosto estaremos lá outra vez ;

Para já ficaremos pelo fim de semana em Greedos ... e se o tempo estiver como promete ... hummmm
Sherpa a 18 de Março de 2011 às 13:57

Nuno, Belo Texto!!!

Vou partilhar no meu FB...
Águia-real a 18 de Março de 2011 às 13:00

Quando voltamos lá outra vez!!!
JJ a 18 de Março de 2011 às 12:17

agora para o Akioud!!
Águia-real a 18 de Março de 2011 às 12:59

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