Ainda de madrugada, os quatro rebeldes do Vamos Ali partiram em direção a Somiedo, um pedaço de paraíso que nos chama a cada estação.
A viagem foi uma constante diversão entre risadas, a ansiedade de chegar perdeu-se na beleza da paisagem que nos iam surgindo no horizonte.
A belíssima aldeia de La Peral fica para traz e lá chegamos ao nosso primeiro destino Llamardal. Só houve tempo de calçar as botas, pegar na mochila e começar a procura das lindíssimas Brañas de Mumian. Percorridos um par de metros, deparamos com um bosque com as cores outonais que nos deslumbraram, foto aqui, foto ali e não há tempo a perder, temos que continuar até avistar as Brañas de Mumian, um local ancestral, quase mágico que nos transportou a tempos passados. As “casarotas” típicas cobertas de arbustos, rodeadas do verde asturiano, os muros caraterísticos, o gado, a fonte…um cenário deslumbrante.
Ouvindo o nosso guia, Picos, subimos para apreciar todo o vale, ficando assim com uma visão de toda a Braña , vales e montanhas circundantes. A palete de cores outonais que nos rodeavam onde sobressaiam os amarelos e vermelhos no meio do verde, a harmonia das cores fazia-nos sonhar com pinturas nunca vistas. Momento de grande emoção coletiva, tiramos as fotos da praxe, aproveitamos para retemperar forças com um almocinho.
Com o coração, cheio regressamos a Pola de Somiedo visitamos o centro interpretativo e claro fomos beber as tão desejadas e merecidas canhas.
De volta a Caunedo, onde nos esperava uma casa rústica, muito acolhedora, uma saborosa refeição e momentos de partilha sobre o nosso fantástico dia.
O segundo dia nasceu fresco e soalheiro ao contrário das previsões adversas, preparados para tudo decidimos percorrer os clássicos Lagos de Saliencia. No Alto da Farrapona, o ar gélido e a montanha pintada de branco chamavam por nós. Visitamos os lagos, La Cueva, Lago Negro, Lago Calabazosa, lago Cerveiriz e o da Mina embora já seco. A sua beleza impar e a vontade de acrescer ao percurso um pouco mais de adrenalina, fez-nos percorrer o Vale de Camayor, parte do percurso que nos levaria ao Lago Del Valle . Ao chegarmos à nossa varanda privilegiada “miradoiro natural” não marcado nos percursos, perdemo-nos com tanta beleza, á direita observamos todo o Valle del Lago até à aldeia, à esquerda a imponência dos picos de La Mortera, pincelados de branco a rodear o Lago el Valle, aqui sentimo-nos tão pequenos e insignificantes perante uma paisagem inebriante sobre as montanhas circundantes. No ar um vento gelado, muito frio, mas um frio bom dos que refresca a cara mas aquece o coração. E assim, de coração cheio regressamos a casa, pelo caminho decidimos visitar o Albergue de Saliencia, local acolhedor, com gente simpática, conhecemos o Álvaro Veja, um companheiro que trocou a vida citadina pela aldeia, um grande apaixonado pela montanha, com quem gostamos muito de conversar, desta visita ao Albergue fica a vontade de regressar.
Nenhum dos rebeldes imaginava o que nos esperava no terceiro dia, o percurso escolhido começava com 2Km verticais!! Preparados para um percurso duro, lá partimos à procura das Brañas de La Mesa e do desfiladeiro de Los Arroxos. À medida que caminhávamos, a dureza do percurso até às Brañas de Saliencia foi esquecida pela grandiosa visão do vale atrás de nós. Continuamos o percurso até à Colada de Las Madalenas, um dos muitos lugares mágicos, de beleza rara porque passamos nesse dia. Asssim, chegamos às Brañas de La Mesa, onde encontramos um enorme aglomerado de “casarotas” de formato diferente, a maioria era arredondada e todas feitas de pedra. Aqui perdemo-nos com tal paisagem, tiramos muitas fotos que hoje ainda nos fazem sonhar.
A conselho do nosso guia, Picos, homem de visão atravessamos o rio e subimos até Pena Ferrera a 1822m, para observarmos todo o vale de Saliencia e montanha circundante. Daqui a vista é avassaladora sobre todo o Vale e cordilheiras pela frente, outro momento para registar na nossa memória. Ficam a saber que durante o trajeto até ao Pena Ferrera fomos surpreendidos pela diversidade da paisagem e pelas numerosas famílias de “rebecos” que nos observavam a grande distância, nós andávamos a evadir o seu espaço natural, quando nos aproximamos fugiram a grande velocidade em todas as direções. Observar a liberdade dos animais no seu habitat natural foi um entusiasmo para o grupo.
Maravilhados com a paisagem e com a surpresa dos nossos amigos “rebecos”, lá regressamos ao Vale de La Mesa apreciando a cada momento a alteração da vegetação, até chegarmos ao desfiladeiro de Los Arroxos.
A imponência deste desfiladeiro, com várias cascatas ao longo do seu percurso, o barulho das águas cristalinas que corriam no rio circundante, a paisagem envolvente multicolor…o outono no seu esplendor, e nós ali a tentar absorver cada instante. À medida que o percorríamos, o entusiasmo aumentava, estávamos perante um cenário nunca por nós imaginado, o outono com todas as cores , uma visão digna de um grandioso quadro pintado, por Monet dizia a Messe. No final do desfiladeiro embrenhamo-nos num bosque encantado, nós os duendes perdidos no seio de tanta beleza, tira foto daqui e dali também para que os nossos amigos possam apreciar tamanha beleza.Para comemorar o fenomenal dia regressamos ao Albergue para beber as tão merecidas canhas.
O tempo foi outra surpresa para nós, quando partimos as previsões não eram as melhores, mas o S.Pedro deu-nos um ar da sua graça e permitiu-nos durante três dias percorrer trilhos de rara beleza sem chuva. No entanto, no final do terceiro dia adivinhava-se uma grande chuvada e durante a última noite o vento e a chuva chegaram em força, por isso, decidimos regressar a nossas casas pela manhã.
Somiedo foi uma aventura, dias de alegria, muita emoção, grande surpresa, muita beleza e partilha. Resta-me agradecer aos meus companheiros por estes dias maravilhosos ao vosso lado, ao Picos, homem sábio e sensato que nos conduziu e guiou por vales e montanhas, à Europa pela logística, companheirismo e amizade, à nossa Masterchef e querida Messe pela confeção de tão saborosas refeições, partilha, alegria e muita amizade.
Somiedo…Somiedo, um paraíso a cada estação.
Quando voltamos??
Rocalva
Texto da Rocalva



